segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Estatísticas de Segurança em SP

A Folha publicou nesta segunda dados estatísticos de violência em janeiro, fornecidos pela Secretaria de Segurança Pública (SSP). O título da matéria foi: "Número de mortes por homicídio sobe 1,6% em SP".

http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1054194-numero-de-mortes-por-homicidio-sobe-16-em-sp.shtml

A manchete está tecnicamente correta. Porém, em uma análise estatística mais rigorosa, o mais adequado seria dizer que houve certa estabilidade no índice do ano passado para este ano, pois a variação ocorrida (de  376 em janeiro/2011 para 382 no mês passado) não sugere uma piora estrutural na violência, como a manchete pode dar a entender.

Por exemplo, suponha que não haja mudança alguma nas condições de segurança, no tamanho da população da cidade, ou no comportamento das pessoas de hoje para o próximo ano. Será que o número de mortes em Jan/2013 será idêntico ao ocorrido no mês passado? É muito provável que não, pois há uma aleatorieade intrínseca nesse processo. Portanto, a variação para mais ou para menos não seria fruto de maior ou menor insegurança (de acordo com a hipótese adotada), mas sim apenas fruto do acaso.

Já em relação a casos de estupro, houve uma variaçao maior (846 para 944), essa sim mais relevante do ponto de vista estatístico, e que pode sugerir uma piora nas condições de segurança, pelo menos em relação a esse tipo de crime.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Acidentes no carnaval

Como é de costume, foram divulgadas após o Carnaval as estatísticas sobre acidentes e mortes nas estradas.
Destaco uma reportagem sobre as estatísticas nas estradas federais em Sergipe, onde o reporter destaca o fato do número de mortes ter aumentado 6 vezes em relação ao ano passado:

http://www.atalaiaagora.com.br/video.php?v=11133

Parece um dado assustador, que leva a crer que os motoristas foram bastante imprudentes este ano ou que as estradas pioraram bastante.

Mas quando vemos a reportagem entende-se o porquê: apenas 1 acidente resultou em 5 mortes. Ou seja, tivesse esse acidente ocorrido ano passado, o número de mortes este ano seria 6 vezes menor do que o do ano passado. Ou então se, por um acaso, tal acidente não tivesse ocorrido, o número de mortes teria se mantido de um ano para o outro.

Portanto, sempre quando for informado algum acréscimo ou diminuição alarmante no percentual de alguma estatística, procure saber qual é a base de cálculo para esse percentual. Por exemplo, variações de 1 para 6 ou de 10 para 60 são da mesma magnitude em percentual, mas a segunda estatística é muito mais confiável do que a primeira, em relação a não ter ocorrido por acaso.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Associação entre refrigerante diet e infarto

Foi divulgado no site da Folha de São Paulo o resultado de um estudo, realizado por pesquisadores da Universidade de Miami, que relaciona o consumo de refrigerante diet com o risco de infarto e derrame.


Destaco uma declaração bastante prudente dos autores da pesquisa, quando salientam que “não há provas de que os drinques sem açúcar são os responsáveis pelo quadro, mas sim que há uma associação entre beber muito refrigerante diet e desenvolver uma doença do coração”.

Talvez não seja fácil perceber a diferença sutil entre as duas afirmativas acima. A idéia principal é que muitas vezes dois fatos podem estar fortemente relacionados entre si, sem que um seja necessariamente causa direta do outro. Um exemplo que gosto de citar é o de que “ver televisão faz as pessoas engordarem”. É evidente que o fato em si de assistir televisão não engorda as pessoas, mas em geral pessoas que passam muito tempo diante da TV tendem a ser mais sedentários, daí o risco maior de obesidade.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Índices de violência durante a greve da polícia em Salvador

Durante toda a semana foi destaque na imprensa o número de mortes em Salvador durante a greve da polícia militar, como por exemplo na notícia abaixo do Diário de Pernambuco, reproduzida no portal do Correio Braziliense, onde se relata a ocorrência de 70 assassinatos após os 6 primeiros dias de greve:


Este número, porém, não pode ser visto de forma isolada. Outra notícia no site Bahia Noticias, publicada após 11 dias de greve, foi mais criteriosa. Houve um cuidado de comparar o número de mortes ocorridas este ano com o registrado em anos anteriores:


Pode-se ver claramente que o aumento é significativo. De qualquer forma, é precipitado dizer que a magnitude desse acréscimo no número de mortes expressa exclusivamente o impacto causado pela greve da polícia, uma vez que pode ter havido uma mudança no panorama de violência da cidade nos últimos anos. Uma forma de avaliar isso seria comparar os índices dos meses anteriores à greve (janeiro, dezembro, por exemplo) em relação aos meses correspondentes nos anos passados.